

Bolsonaro, um populista de extrema-direita, foi eleito em uma onda de descontentamento com os políticos tradicionais do Brasil. Uma economia frágil, crescente onda de crimes, e grandes escândalos de corrupção diminuíram a confiança em partidos tradicionais, como o PT e o PSDB. Bolsonaro juntou uma coalizão de apoiadores incluindo Evangélicos, os poderosos magnatas do agrobusiness, e o Exército, além de votos da classe média antes indecisos. Mesmo antes de ser eleito, estava claro que suas políticas externas seriam guiadas mais por ideologia do que por pragmatismo. Durante a campanha, suas críticas da Venezuela como uma ameaça Marxista ao Brasil exemplificavam o tipo de ideologia que marcaria sua estratégia. Sua escolha de Ernesto Araújo como o Ministro das Relações Exteriores refletiu sua conexão a um movimento de margem de escritores, liderados por Olavo de Carvalho, que critica o globalismo, “marxismo cultural”, e “climatismo”. Bolsonaro repetidamente elogiou Trump e sua estratégia nos Estados Unidos, e desde seu primeiro dia em poder buscou melhores relações com Washington. Trump também elogiou Bolsonaro, e encontrou um aliado na América Latina disposto a seguir as mesmas prioridades de extrema direita em relações internacionais. No entanto, ainda que ambos os países seriam beneficiados por uma maior parceria comercial, eles enfrentam significantes barreiras políticas e pragmáticas. Essas diferenças, como protecionismos comerciais e outras políticas, têm há muito impedido um crescimento no comércio entre as duas nações. Adicionalmente, os pragmatistas dentro do governo têm repetidamente bloqueado Bolsonaro de tomar açõees que colocariam a economia Brasileira em risco por interesses ideológicos. Por exemplo, a proposta brasileira de mudar sua embaixada para Jerusalém teria danificado as significantes exportações de congelados para países do Oriente Médio. A sugestão de Bolsonaro que os Estados Unidos construíssem uma base militar em território Brasileiro foi rapidamente desaprovada por líderes militares. Adicionalmente, diversas tensões desnecessárias ocorreram, como discussões com França e Alemanha sobre o desflorestamento na Amazonia, e indiscrição com a China, o maior parceiro comercial do Brasil, ao visitar Taiwan. Portanto, as tentativas de Bolsonaro de refazer a política externa brasileira à sua imagem têm sido significativamente frustradas por interesses econômicos pragmáticos que sustentam a sua coalizão. Ele também tem enfrentado derrotas, como a Holanda bloqueando o acordo comercial UE-Mercosul que era negociado há anos devido à destruição da Amazônia no Brasil, e Trump voltando atrás em sua promessa de apoiar a ascensão do Brasil à OCDE e impondo tarifas em exportações de aço brasileiro. É claro que o Brasil está em uma posição delicada na economia global—uma posição que tem há muito informado o pragmatismo de praticamente todos os governos desde Geisel. Bolsonaro irá provavelmente seguir buscando caminhos ideológicos em sua politica externa, mas ele enfrentará resistência dentro de sua própria coalizão, importantes parceiros comerciais, e até mesmo Trump, cuja imprevisibilidade e deslealdade a aliados pode tornar-se contra o Brasil a qualquer momento.
Artigos
Contexto da eleição de Bolsonaro
Wendy Hunter, Timothy J. Power, “Bolsonaro and Brazil’s Illiberal Backlash” | English
Política Externa, Relacionamento com os Estados Unidos, Pragmatismo e Ideologia
Miriam Gomes Saraiva, Álvaro Vicente Costa e Silva, “Ideologia e Pragmatismo na Política Externa de Jair Bolsonaro” | Português
Comentário sobre a política externa Brasileira
Miriam Saraiva, “Qual o Lugar de Ernesto Araújo na História da Diplomacia Brasileira?” | Português
Editorial escrito por Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores, para Bloomberg: Português